quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Cesta Cultural

I Cesta Cultural de Seabra.
                           
Que a cesta não termine numa sexta!

Foi num fim de tarde do dia dois de setembro deste ano, que estive na Praça Quintino Bocaiúva em Seabra-Ba, para apreciar um evento realizado pelo Projeto Velame Vivo em parceria com artistas locais, no qual deram o nome de I Cesta Cultural. A não ser no período junino, há muito não via Praça e sociedade serem agraciadas por tão distintos produtos e personagens culturais do nosso município.
Há inúmeras razões para ir a uma praça, desde tomar uma cervejinha, namorar, bater papo com os amigos, como ver gente, brincar, ou mesmo curtir o ócio seja ele como for: saudável ou nocivo, quem sabe? Mas estar na Praça naquele dia me fez até recordar um tempo mais tranquilo em que éramos mais ingênuos, românticos, poéticos. Digo isso, porque é como se precisássemos fazer equilibrismos cotidianos em favor da boa convivência numa sociedade tão marcada pela ostentação e soberba.
Então, participar da cesta cultural me permitiu trazer à tona a minha versão mais serena e, sobretudo reaver coisas de que gosto de verdade. E dentre tantas, a arte é uma delas. Nas tranças enfeitadas da cesta surgiu à feirinha de artesanato, o palhaço contador de história, voz e violão da melhor qualidade, tinta, pincel e tela nas mãos suaves do artista, cordel, capoeira, malabarismo com fogo, poesia e teatro de rua. Imaginem tudo isso junto! Realmente posso dizer que a cesta foi trançada com cipós de diversas texturas e aromas culturais.
 Como nos “Bailes da vida”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, “Todo artista tem de ir aonde o povo está...”, e assim também fizeram os jovens do Grupo de Teatro Lamparinas do Sertão, do povoado de Lagoa da Boa Vista, ao espalharem irreverência, talento e desenvoltura nas voltas da cesta e  na trama da peça “ A Bela Engasgada”! Nesse movimento, visualizo duas lamparinas surgindo – o teatro e as artes plásticas - cada uma em um extremo do palco emitindo suas luzes, brilho e cor em todo o cenário da praça.
Educar os sentidos através da arte é alimentar a alma, deixar-se contaminar, experimentar o ócio criativo e por falar em criatividade não me canso de contemplar as obras do artista Pedro Lima. Ele, um gênio do pincel chegou à praça com sua simplicidade e deu luz a uma obra belíssima intitulada Lamparina. Ao contemplá-la pensei – Pedro pinta o simples, uma casinha lá no pé do morro do camelo e no terreiro uma grande lamparina a iluminar todo o cenário a sua volta. Mas, o simples não é fácil. Principalmente para um artista com tamanha sensibilidade. Ele pinta com o coração e isso faz a diferença. Fico a pensar: o que mais nos acorrenta é a geleira que vamos criando em redor do nosso coração.  E entre me prostrar diante do banal tentando sobreviver e me aventurar naquilo que me torna mais gente, mais humana, fico com a segunda opção para assim melhor viver.
Viver cada sexta, segunda, terça..., criar, participar, trançar a cesta sem medo, sem nos paralisar frente às dificuldades cotidianas, isso é o que espero de todos nós tecelãos da Cesta Cultural de nossa encantadora Seabra.

Por: Cristina Alice Cunha Ribeiro
        Coordenadora Pedagógica do Município de Seabra.
 
  

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